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O Novo Ecossistema de Semicondutores em Portugal

22 12 2025 Yunit Consulting
O Novo Ecossistema de Semicondutores em Portugal

A economia global atravessa um ponto de inflexão onde a soberania tecnológica deixou de ser um conceito teórico para se tornar o eixo central da segurança nacional e da competitividade económica. No cerne desta transformação residem os semicondutores, dispositivos que constituem o coração digital de todas as tecnologias modernas.

 

 

Em Portugal, a publicação da Portaria n.º 444/2025/1, em 15 de dezembro de 2025, marca a operacionalização de uma visão ambiciosa que visa integrar o país na elite da microeletrónica europeia. Este regulamento estabelece o Sistema de Incentivos e de Apoios para Investigação, Desenvolvimento e Inovação no Setor dos Semicondutores.

A importância deste diploma é sublinhada pela magnitude do mercado de semicondutores, que se projeta vir a duplicar até ao final desta década, ultrapassando um valor de mercado de um trilião de dólares.

O contexto geoestratégico e a necessidade de resiliência europeia

A vulnerabilidade das cadeias de abastecimento globais foi exposta de forma dramática durante a pandemia de COVID-19 e subsequentes tensões geopolíticas. A escassez de chips resultou numa redução significativa da produção em setores críticos, como o automóvel.

Atualmente, a União Europeia detém aproximadamente 10% da quota de mercado global de semicondutores, uma posição que o EU Chips Act pretende duplicar para 20% até 2030. Portugal posiciona-se não apenas como um consumidor de tecnologia, mas como um nó vital na cadeia de valor de semicondutores avançados, design e embalamento (packaging).

Análise detalhada da Portaria n.º 444/2025/1: o novo quadro de apoios

A Portaria n.º 444/2025/1 aprova o regulamento específico que permite às empresas e entidades do sistema de I&D acederem a fundos para fortalecer a indústria da microeletrónica.

"Os apoios revestem a forma de subvenções não reembolsáveis, ou seja, fundos a fundo perdido destinados a catalisar projetos de alto risco e elevado valor tecnológico."

A implementação está a cargo da Agência Nacional de Inovação (ANI) e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), garantindo uma articulação entre o mundo empresarial e o académico.

Tipologias de projetos e elegibilidade

O sistema de incentivos foca-se no Pilar 1 da Iniciativa para os Circuitos Integrados Europeus. Os projetos elegíveis devem enquadrar-se nos objetivos de desenvolvimento de tecnologias de semicondutores de vanguarda e tecnologias quânticas de próxima geração.

As entidades que podem beneficiar destes apoios incluem empresas de qualquer natureza e sob qualquer forma jurídica, bem como Entidades Não Empresariais do Sistema de Investigação e Inovação (ENESII), desde que integradas em consórcios ou projetos reconhecidos pela Parceria Europeia Chips Joint Undertaking (Chips JU).

Critérios de seleção e despesas elegíveis

A avaliação das candidaturas baseia-se no mérito técnico-científico, no grau de inovação e no alinhamento com a Estratégia Nacional.

As despesas elegíveis incluem o investimento em ativos corpóreos e incorpóreos, pessoal qualificado, serviços de consultoria técnica e custos associados à proteção da propriedade intelectual.

Talentos e capital humano: o desafio da especialização

O crescimento da indústria de semicondutores em Portugal enfrenta um desafio estrutural: a escassez de talento especializado. Estima-se que a indústria europeia precise de 15.000 novos profissionais qualificados nos próximos anos.

A Estratégia Nacional para os Semicondutores prevê um enfoque acrescido em cursos de especialização e intercâmbio de talentos. A política de abertura de Portugal ao talento internacional é vista como um fator positivo para manter e crescer operações de R&D de empresas globais.

Parcerias internacionais e cooperação académica

A cooperação com países líderes, como a Coreia do Sul, foi identificada como estratégica para o ecossistema português. Novas parcerias entre instituições de ensino visam a troca de conhecimento técnico e a formação de recursos humanos em microeletrónica, essencial para executar projetos de vanguarda.

Sustentabilidade e o futuro das "fábricas verdes"

As Sustainable Future Fabs estão a tornar-se uma prioridade, com o objetivo de criar fábricas mais eficientes do ponto de vista energético e ambiental. Portugal pode utilizar os seus recursos endógenos (energias renováveis) para alimentar uma indústria de microeletrónica sustentável, reduzindo a pegada de carbono de componentes intensivos em energia.

Implicações para o setor industrial e vertical

O impacto da Portaria n.º 444/2025/1 estende-se muito além dos fabricantes de chips. Vários setores são beneficiários diretos:

  • Automóvel: Desenvolvimento de novos sensores e chips de controlo de potência para veículos autónomos e elétricos.
  • Telecomunicações: Circuitos fotónicos integrados e chips para 5G/6G.
  • Saúde: Microeletrónica flexível para dispositivos médicos vestíveis e biossensores.
  • Defesa e segurança: Autonomia estratégica na produção de chips seguros.

Conclusões e recomendações estratégicas

A nova lei para apoiar a I&D&I no setor dos semicondutores é um catalisador para uma nova era industrial em Portugal. Para as empresas do setor, recomenda-se:

  • Participação em consórcios: Colaboração com entidades de I&D (ex: INL, INESC MN).
  • Foco na especialização: Aproveitar valências em packaging avançado e fotónica integrada.
  • Investimento em talento: Requalificar equipas e atrair especialistas internacionais.
  • Gestão profissional de incentivos: Garantir o cumprimento rigoroso das regras de elegibilidade.

Com o novo quadro legislativo, o país está mais bem preparado para enfrentar a corrida tecnológica global, garantindo resiliência económica e soberania digital para as próximas décadas.

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Última atualizaç&atildeo: 22/12/2025

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